Como vencer o Tempo?

Boa parte da minha carreira profissional foi ligada com centrais de atendimento. Antigamente o setor era muito diferente de hoje, mas alguns dos seus fundamentos permaneceram. Por exemplo, se você não é operador de atendimento, você está em uma posição que vai demandar horas extras com frequência. Ao contrário do que muita gente pensa, eu realmente gostei de ter trabalhado nisso.


Mas em 2009 eu já estava decidido a deixar a empresa e ficar na TSKF em tempo integral. Eu queria ficar exclusivamente na academia que havia na Mooca, na Av. Paes de Barros. Inclusive o prédio onde era a academia tornou-se depois propriedade do Mestre Gabriel.


Por mais que eu estivesse me preparando para sair do emprego formal, era importante para mim continuar sendo profissional. Assim, em paralelo com a minha preparação, toquei alguns projetos neste período em que realmente fiquei orgulhoso do resultado.


Neste processo de migração de trabalho, eu decidi que seria muito importante chegar na Mooca para ajudar na aula das 20h00-21h00 e conduzir a última aula, das 21h00-22h00. Ah sim: eu saia as 18h30 do trabalho e trabalhava na esquina da Av. Paulista com a R. Augusta, no Conjunto Nacional.


Essa nova forma de encarar o trabalho precisava de mudanças.


A primeira mudança que fiz foi no horário de entrada. O horário normal era das 09h00-18h30, com uma hora de almoço. “Mudei” meu horário de entrada para as 08h00. Isso me deva uma hora de dianteira em relação aos demais e o melhor: sem telefone tocando!


Fora que a maioria das pessoas que tinham o ciclo normal no trabalho não chegavam “09h00”. Elas chegavam 09h30 ou 10h00…Afinal, tinham ficado na noite anterior até 20h00 ou 21h00 trabalhando direto. Era um acordo não verbal por ali…


Outra mudança importante foi o almoço. No lugar de usar uma hora para o almoço, eu comia em apenas 30 minutos e fora do horário convencional (entre 12h30 e 14h00 naquela região). Ou eu saia para almoçar pontualmente as 12h00 ou então só iria as 14h30.


Dessa forma eu não pegava fila, mas com um lado ruim: isso me deixava fora daquela interação social típica de almoço que a empresa tinha (deve ter ainda). Lado bom para mim: um almoço de uma hora assim facilmente virava uma hora e meia. Produtividade perdida!


A terceira coisa foi a mais difícil de todas: sair no horário. Veja, eu cumprindo meus deveres na empresa, mas é óbvio que nos primeiros dias eu me sentia culpado em sair no horário enquanto todos os outros estavam trabalhando ainda.


Então, no primeiro dia que me levantei as 18h30 e tomei o caminho da porta de saída, uma pessoa do departamento (que não era meu chefe), perguntou em voz alta, em meio ao silêncio do trabalho da área:


_Já vai?


E eu tive que reunir toda a minha capacidade artística para representar o papel de alguém tranquilo e nada nervoso por estar indo contra uma cultura empresarial de centenas de pessoas. Respondi com a voz mais serena possível:


_Não. Já fui.


E não voltamos a falar sobre isso mais no departamento. Eu era o esquisito que saia no horário, mas conseguia entregar o que precisava.


O ponto principal que gostaria de transmitir neste texto é que quando você achar que não tempo de treinar, é preciso ter certeza disso. Muitas vezes não é verdade, sinto lhe dizer. Na verdade, é você que não está disposto a fazer as mudanças necessárias para ter tempo.


E, honestamente, está tudo bem com isso. Desde que você esteja disposto a olhar para a verdade.


Na minha experiência como aluno e depois como professor, 80% dos casos em que escuto “não tenho tempo”, automaticamente meu cérebro traduz a frase para “eu não quero mudar minha rotina”.


E está tudo bem em manter sua rotina. É segura, pode não ser confortável, mas o que acontece é relativamente previsível para você. Apenas não se esqueça que a mudança e evolução não estão onde é seguro e previsível.


Se você quer mudar e evoluir, é preciso estar pronto para mudar e não esperar que o mundo mude para você, querido unicórnio. É você que tem que mudar para crescer.

Mestre Gabriel
Mestre Gabriel

Praticante de Kung Fu desde 1980, fundou a TSKF Academia de Kung Fu em 1996, graduado Mestre pela Confederação Mundial de Kuoshu. É escritor, palestrante, ocultista e estudioso da entidade humana.

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